Quando projetou o Pavilhão Nórdico em Veneza, Sverre Fehn incorporou elementos arquitetônicos nórdicos de formas pouco usuais. Possivelmente o que mais chama atenção no edifício seja sua cobertura laminar de concreto branco, que é rompida por árvores, barrando os raios solares e filtrando a luz. Dependendo do ângulo, as lâminas permitem visualizar as cores do céu e a copa das árvores, trazendo um dinamismo à cobertura no percurso pelo edifício. De fato, a utilização de lâminas em fachadas, paredes e coberturas é uma tradição que provém da arquitetura nórdica e tem se espalhado pelo mundo. Neste artigo abordaremos alguns exemplos de emprego dessa solução, as possibilidades e as melhores formas de amplificar o efeito.
As ripas ou lâminas de madeira geralmente atuam como uma segunda camada à fachada, como um revestimento externo, que pode ser funcional e estético. Os diversos arranjos possíveis da madeira acrescentam calor, aconchego e sofisticação à edificação, além de possibilitarem criar ritmo e até definir volumes e abranger partes opacas e transparentes da edificação.
Geralmente, a instalação é bastante simples. Sobre uma estrutura de alvenaria ou algum outro método construtivo, montantes espaçados são instalados. Sobre eles, são parafusadas as peças de madeira, com seções transversais quadradas ou retangulares. Os espaçamentos e o sentido das ripas podem ser adequados conforme o desenho.
Por exemplo, no projeto para o Sparkasse Bank, de Dietger Wissounig Architekten, o objetivo da instituição era criar um ambiente descontraído e amigável aos clientes e funcionários. A fachada de lâminas de madeira envolve toda a edificação, ao mesmo tempo sendo rompida por esquadrias e sobrepondo outras aberturas, proporcionando privacidade às mesmas, rementendo à leveza e transparência buscada pelo projeto.
A solução pode abranger, além das fachadas, as coberturas. Na Casa 11 x 11, de Titus Bernhard Architekten as paredes externas e a cobertura de madeira produzida por elementos pré-fabricados são sobrepostas por uma fachada vertical de madeira lamela sem contra-ripas, convergindo para o cume do telhado. Um jogo de diferentes larguras de espaçamentos entre as ripas conforma um dinamismo à fachada, acompanhando as aberturas.
No projeto de KÜHNLEIN Architektur, dois volumes de duas águas são unificados pelo revestimento de lamelas de madeira: uma contendo áreas de estar e a outra uma série de quartos Neste caso, a fachada é de madeira de lariço sem tratamento, e com o tempo se tornará acinzentada.
Utilizar os revestimentos de lâminas de madeira pode ser uma boa saída para requalificações. Em um exemplo na República Theca, os arquitetos da Kamil Mrva utilizaram a solução para tornar o edifício contemporâneo. Conformando um volume prismático de madeira e abrangendo a maior parte das aberturas, a fachada em lamelas de madeira é feita de ripas comuns não aplainadas e não acabadas trazidas de uma serraria próxima.
No projeto Puinhuis, de FELTO, o edifício original foi envolvido em um novo envelope, delineando o novo volume. A forma ainda se refere à fachada em branco do antigo edifício, mas o revestimento vertical de madeira e uma série de janelas quadradas aparentemente dispostas ao acaso marcam claramente sua singularidade.
Mas nem sempre as lâminas em madeira natural precisam estar na vertical com espaçamentos regulares. A House in Tschengla, de Innauer-Matt Architekten, evidencia lâminas horizontais sobre um fundo escuro envolvem todo o perímetro do volume simples da casa de duas águas. Ou mesmo neste projeto de Snøhetta, cujas lâminas são utilizadas na horizontal e diagonal.
Na Core Agora Shops, de Not a Number Architects, a pele destacada dos pavilhões é feita de lamelas de compensado em um padrão tecido que reflete as técnicas tradicionais de cestaria. Esta fachada de madeira funciona como o elemento de ligação de todo o complexo, mas também como um dispositivo de proteção solar vertical para todas as estruturas. A uniformidade da pele é interrompida por grandes janelas que emolduram os produtos em exposição. À noite, os volumes se iluminam como lanternas que iluminam os caminhos circundantes do parque.
No projeto para uma pequena casa de fim-de-semana na Holanda, os arquitetos optaram por revestir toda a edificação com ripas de madeira escura. Nesse caso, os montantes de fixação, com o mesmo acabamento, ficam bem aparentes.
Já no projeto da Fazenda Catuçaba, Marcio Kogan e Lair Reis escolheram revestir todo o volume com ripas de madeira, mas com o diferencial de serem peças brutas, troncos com as formas orgânicas. Isso cria um padrão único, sobretudo com as sombras.
Através desses exemplos é possível observar a versatilidade, as possibilidades dessa solução de fachadas. Além de proporcionar uma estética que é, ao mesmo tempo, calma e dinâmica, permite brincar com a iluminação natural e as sombras, além de ser, em alguns casos, barreiras à radiação solar excessiva e possibilitar a ventilação. Conheça mais alguns projetos que utilizam essa solução na galeria abaixo e nesta pasta do My ArchDaily.